«O que é a experiência? Nada. É o número dos donos que se teve. Cada amante é uma coronhada. São mais mil no conta-quilómetros. A experiência é uma coisa que amarga e atrapalha. Não é um motivo de orgulho. É uma coisa que se desculpa. A experiência é um erro repetido e re-repetido até à exaustão. Se é difícil amar um enganador, mais difícil ainda é amar um enganado.
Desengane-se de vez a rapaziada. Nenhuma mulher gosta de um homem «experiente». O número de amantes anteriores é uma coisa que faz um bocadinho de nojo e um bocadinho de ciúme. O pudor que se exige às mulheres não é um conceito ultrapassado — é uma excelente ideia. Só que também se devia aplicar aos homens. O pudor valoriza. 0 sexo é uma coisa trivial. É por isso que temos de torná-lo especial. Ir para a cama com toda a gente é pouco higiénico e dispersa as energias. Os seres castos, que se reprimem e se guardam, tornam-se tigres quando se libertam. E só se libertam quando vale a pena. A castidade é que é «sexy». Nos homens como nas mulheres. A promiscuidade tira a vontade. Uma mulher gosta de conquistar não o homem que já todas conquistaram, saquearam e pilharam, mas aquele que ainda nenhuma conseguiu tocar. O que é erótico é a resistência, a dificuldade e a raridade. Não é a «liberdade», a facilidade e a vulgaridade. Isto parece óbvio, mas é o contrário do que se faz e do que se diz. Porque será escandaloso dizer, numa época hippificada em que a virgindade é vergonhosa e o amor é bom por ser «livre», que as mulheres querem dos homens aquilo que os homens querem das mulheres? Ser conquistador é ser conquistado. Ninguém gosta de um ser conquistado. O que é preciso conquistar é a castidade. »
Miguel Esteves Cardoso,
in 'As Minhas Aventuras na República Portuguesa'
Friday, October 8, 2010
Thursday, October 7, 2010
Amador sem coisa amada
Resolvi andar na rua
com os olhos postos no chão.
Quem me quiser que me chame
ou que me toque com a mão.
Quando a angústia embaciar
de tédio os olhos vidrados,
olharei para os prédios altos,
para as telhas dos telhados.
Amador sem coisa amada,
aprendiz colegial.
Sou amador da existência,
não chego a profissional.
António Gedeão
Tuesday, October 5, 2010
Requiem Kyrie
The hour of parting is at hand
Sorrow ever awaits on joy
and has rendered me to pieces
drink me deep
or death devour
cover me with darkness
paint me like death
I drown in rememberance
Sorrow ever awaits on joy
and has rendered me to pieces
Requiem, Kyrie, Requiem
I drown in rememberance
Sorrow ever awaits on joy
and has rendered me to pieces
Requiem, Kyrie, Requiem
by Virgin Black
Hoje sinto como se alguém tivesse morrido...
Provavelmente a minha alma foi-se...
E eu nem senti...
.
Restos de coisa alguma
Sinto-me um recipiente vazio...
Em tempos tive em mim sensações que me preenchiam por completo, mas hoje, olho cá dentro na alma e nada vejo...
Um vazio, um abismo...
Despejaram de mim todo o sentimento...
E escrevendo sobre isto, nada me dói, nada me cai...
Como se por agora, nem sequer existisse...
Espero pois que alguém chegue, leve de mim o nada que me compõem e deixe lá restos de coisa alguma...
“A alma humana é um abismo escuro e viscoso,
um poço que se não usa na superfície do mundo”
.
Subscribe to:
Posts (Atom)