Wednesday, January 2, 2008

Painful Secrets

Apesar de eu tentar, simplesmente não consigo compreender certos comportamentos...

Apetece-me falar sobre um assunto sobre o qual nunca me expressei, e direccioná-lo a alguém em especial, mas sinto como se estivesse de algum modo a infringir um limite...

Quero falar de auto-mutilação e flagelação...

Vivi de perto, e não sei se vivo ainda, uma situação como observadora de um comportamento destes... Precisamente com a pessoa mais importante da minha vida... Não a vou mencionar, ela sabe quem é...

É estranho, nunca perdi muito tempo a analisar os comportamentos evasivos, a postura física semi-escondida do mundo, com a cabeça e ombros sempre para baixo, a roupa excessiva num corpo tão pequeno e magro, as camisolas de manga comprida, mesmo com dias de calor... Aquela raiva no olhar, pensei sempre ser comum nos adolescentes, também eu passei maus bocados, embora parte de mim achasse exagerado... «Fazer o quê? Há-de passar!», suponho que seja este o pensamento de todos os que assistem a algo semelhante...

O abuso do àlcool (incluindo excursões furtivas à "adega" de casa), os exageros em quase tudo o que fazia, as experimentações em drogas, desde o simples tomar de Nimed para misturar com as bebidas, passando pela ganza, até ao cúmulo de cheirar aqueles sprays analgésicos desportivos... E isto é o relato do que me foi dito pela própria, sei lá o que lhe passou pelas mãos que ela me quis ocultar...

Isso já me começou a preocupar mais... E comecei a reparar que os x-actos do meu quarto (como estava em arquitectura, era o que não faltava lá em casa!) pareciam evaporavar... Comprava mais um ou outro e era certinho que eles passado uns dias desapareciam...

Até ao dia que, já nem sei bem porquê, lhe puxei a camisola e vi no braço escrito Korn... Não foi a palavra, mas sim as crostas da ferida, como se ninguém se fosse aperceber que a pele tinha sido cortada e que por cima, a ferida estava riscada a marcador de feltro preto... Aquilo chocou-me! Enquanto agarrava no braço e perguntava o que era aquilo ela quase teve um ataque... Ficou furiosa, gritou comigo, que eu não tinha nada a haver com a vida dela... Uma questão de segundos, mas ainda hoje me lembro daquela ferida...

Já não sei bem precisar quanto tempo depois disso até ela começar em terapia (que ainda hoje frequenta...) mas quando se começou a vestir com menos roupas foi um choque para mim olhar finalmente para todas aquelas cicatrizes nos braços, nas pernas, na barriga... Pequenas, mas lineares, umas ao lado das outras, como se tivessem sido «arrumadas» em prateleiras... Não fui capaz de controlar as lágrimas e a dúvida tomou conta de mim...

O que se passa na cabecinha dela para ela fazer isto ao próprio corpo???
Não entendi antes, e mesmo com algumas explicações após, continuo sem compreender... Custa-me, não percebo, não consigo...

Que dor tão grande é essa que só a consegues exprimir de forma destrutiva?
O que se passa dentro desse peito que mais ninguém consegue ver?

Passaram alguns anos, e sei que já não te cortas...
Mas continuas a flagelar-te ao andares constantemente bêbada sempre que podes...
Encontraste uma nova maneira de fazer mal a ti própria mas que é socialmente aceite...
E ninguém sabe, ninguém desconfia do mal que tudo isso te faz...
Todos acham o máximo ver-te assim, mas não fazes ideia do aperto que sinto cada vez que sei que vais sair... Imaginar-te sem controlo novamente... E a continuar sem perceber porquê?!

O que te falta?
Só queria que me dissesses o que te falta...
Ajuda-me a entender, porque eu já não sei o que fazer para te ajudar...

E ver-te assim é assistir de perto a um destino condenado que tu própria lideras...
Não fujas, não te cales, não guardes para ti tudo aquilo que te faz mal...
Não afastes de ti quem te quer bem...

Pensa apenas que se um dia te acontecer algo pior, não te vais estar a maltratar só a ti, mas todos aqueles que te amam...


Vacate is the word... Vengeance has no place so near to her
Cannot find the comfort in this world
Artificial tear... Vessel stabbed... Next up, volunteers
Vulnerable, wisdom can´t adhere...





Aconselho vivamente a assistirem a Painful Secrets


2 comments:

Jacinta. said...

gostei do teu texto...
já passei por algo semelhante ao que tu estás a passar... compreendo *



um beijo...

Root said...

As pessoas que fazem isso têm problemas afectivos, que não são de simples resolução. Já namorei com uma rapariga que fazia o mesmo, mas "curei-a" :P Apresenta-me a tua amiga que tento fazer-lhe o mesmo hehehe Essas pessoas não o fazem por gostarem mas por sentirem uma necessidade forte que as impele para isso, que normalmente é causada por coisas que acontecem no seu quotidiano.