Pergunto-me se, quando falamos em «tempo perdido»,
sabemos realmente ao que nos referimos... Há quem fale no tempo que perdeu, em detrimento de outras coisas que se revelaram pouco produtivas ou compensadoras... E há quem fale no tempo que perde em relação a um futuro, seja ele próximo ou distante...
Eu acho que pertenço ao último grupo... Ou a ambos... Não sei...
Sinto uma nostalgia imensa do tempo que perco no presente em relação ao que viverei no futuro...
Não faz muito sentido?! Pois, eu sei que não... Mas é assim que me sinto...
A rotina diária que vivo hoje preocupa-me em relação à que poderei viver no futuro...
Como me poderei explicar melhor que isto?! Não sei...
Vejamos... Como mulher, sei que tenho limites físicos bem diferentes de um homem (naturalmente...), como por exemplo, o ter filhos... Aproximam-se os 30 anos, e apesar de a idade em si não me afligir, assusta-me o que com ela chega... Dou comigo a pensar se terei ou não filhos, se mudarei ou não de emprego, se troco ou não de casa... Sei lá... Vejo o que tenho hoje em dia e sabe-me a pouco... Vejo o que poderei ter no futuro, e continua a saber-me a pouco... Mas no entanto, sinto tudo isso com um peso nos ombros, como se a culpa fosse minha e de algum modo ter desperdiçado o meu tempo em futilidades ou sonhos quebrados... E agora, que o futuro se aproxima, pergunto-me se é mesmo isso que eu quero, ou se é isso que de mim esperam...
Que alcança uma mulher na vida? Sejamos sérios e realistas, sem paleio de saco à mistura...
Com toda a franqueza (e infelicidade à mistura) uma carreira feminina qualquer neste país só existe se, tiver um cú do tamanho do mundo para levar nele de tudo e todos até chegar a algum lado ou caso tenha um QI acima da média e seja realmente um crânio e faça algo de inovador...
Ora, como não sou nem uma, nem outra, pergunto-me pois o que me resta?
É uma valente foda achar que vou trabalhar uma minha vida inteira precariamente, a recibos verdes e sem um horizonte mais luminoso (puta de área que fui escolher..Aaahhhh) e ainda por cima ainda ter de lutar contra o instinto materno e afins... Será que acordar todos os santos dias ás 7h, levar os putos à escola, trabalhar, almoçar, trabalhar mais um pouco, buscar a criançada ao infantário, chegar a casa, dar banho à prole, fazer jantar, tratar das roupas, estender, passar e limpar, e finalmente, já de rastos, aterrar na cama ás 23h, é a vida que quero para mim???
Eu sei, EU SEI, que ainda nada disto aconteceu... Mas existem 50% de hipóteses de esta vir a ser a minha vida futura...
E eu olho para mim e para o que me rodeia e desejaria fazer mais... Ou ter feito mais... Aproveitado melhor o tempo, para ler, viajar, correr, saltar, dançar, amar... Sei lá, viver o tempo até ao tutano, esgotar todas as reservas de energia e deitar-me como se hoje tivesse sido o último dia da minha vida...
Por isso, quando falo de «uma nostalgia imensa do tempo que perco no presente em relação ao que viverei no futuro«, é a isto que me refiro...
Será que agora fui capaz de me expressar?
Ou nem por isso...?
...E porque o tempo tem pó
é todo ele vago,
somente não me dói o ficar só
apenas o ter perdido, unicamente...